Para aqueles que desconhecem o
termo “grande irmão”, ou “big brother”
em inglês, aconselho a pararem de assistir o programa de mesmo nome e lerem o
romance 1984 de George Orwell. Nele, vemos uma sociedade totalmente manipulada
e controlada por essa entidade, o Grande Irmão. As câmeras vigiam de forma
constante todo o estado sob seu controle de forma constante. Salvo o suposto
exagero descrito no livro e no filme homônimo, será mesmo a ideia do Grande
Irmão tão absurda ao ponto de se tornar apenas uma obra de ficção, ou a
essência do Grande Irmão estaria presente, de certa forma, na sociedade durante
todos os períodos da história?
O Grande Irmão no passado
Desde a antiguidade, até pouco
tempo, a sociedade baseou-se em monarquias, impérios e outras formas de poder
semelhantes, na qual existia um único ser, ou um pequeno grupo deles, que
controlaria grandes áreas e suas populações. Em um primeiro momento, isso não
significaria grande coisa, mas ao comparar com o conceito do Grande Irmão sem a
sua tecnologia, podemos ver uma serie de padrões. As pessoas que eram acusadas
de conspirar contra o poder local teria uma punição severa, muitas vezes
acabando em morte, mesmo que fosse apenas uma acusação, sem prova alguma. O
Grande Irmão, provavelmente cederia aos mesmos métodos no caso de não existir a
tecnologia proposta pelo autor da obra. A constante vigilância das câmeras
seria substituída por rodas muito constantes do exercito e os soldados do
Grande Irmão fariam basicamente qualquer coisa contra a população, desde que
não questionassem a supremacia do rei, digo Grande Irmão. A ração e o controle
financeiro da obra de ficção não existiam antigamente, quando a maioria das
pessoas cultivava, colhia e caçava por conta própria, mas isso seria facilmente
substituído pela alta cobrança de impostos imposta pelos seus soldados, que da
mesma forma, deixavam a população na miséria. Este é um dos maiores pontos de
um sistema baseado na forma e no medo das massas, afinal, deixar a população
fraca é uma ótima maneira de fazer com que eles busquem matar a fome antes de
buscar matar o “líder” e mesmo em caso de revolta, os revoltosos moribundos
seriam facilmente contitos pelo saudável exercito. Já é possível observar que a
essência do Grande Irmão presente no livro, não só seria possível, como também
realmente existiu até um período relativamente curto de nossa história, sendo
representado pela maioria das monarquias, impérios, ditaduras e outras formas
de poder absolutistas.
O Grande Irmão no presente
Após a nossa primeira comparação,
chegamos ao presente, nosso mundo moderno, em que o mundo como um todo se
comunica, são raras as formas de governo absolutistas, as economias crescem e o
mundo vive o capitalismo e mesmo com alguns conflitos é possível dizer que
vivemos em uma época de paz, sem nenhuma ameaça de guerra aparente. Neste
cenário o Grande Irmão, com certeza não existiria, certo? Errado! Na comparação
anterior, utilizamos como base regiões controladas por uma única pessoa, ou um
seleto grupo de pessoas, agora utilizaremos a mesma ideia, substituindo as
pessoas, por empresas. As empresas são a maior força do capitalismo, presentes
no mundo todo e mesmo não oprimindo as populações, elas controlam as massas. E
os governos, não são contra isso, pelo simples fato que, ou eles tornam-se
parceiros dessas empresas quase como se ele mesmo fosse uma ou simplesmente
porque eles não têm força para isso. Um exemplo da força das empresas é a
relação entre a Coca-Cola e o Papai Noel, originalmente a roupa do bom velhinho
era verde e não o tão popular vermelho. Foi em 1931, que através de uma
campanha publicitária da Coca-Cola, que o senhor Nicolau tornou-se como o
conhecemos hoje. Agora, o que aconteceria se um governo muito forte se unisse a
diversas empresas a fim de espionar outros países ou seus próprios habitantes?
Bom, é só perguntar para o Edward Snowden.
Este é justamente o ponto.
Atualmente ainda vivemos na sombra do Grande Irmão, mesmo não de forma
descarada, como na obra de ficção, fica claro como as empresas controlam o
mundo em uma grande rede de informações entrelaçadas e ao incluir um governo
capaz de organizar este ninho de informações teremos algo muito mais assustador
do que o que é descrito no livro. Sem tendências conspiratórias, não, se você
falar mal do Obama, ninguém invadirá a sua casa e irá te torturar até você
dizer o que eles querem que você diga. O meu ponto aqui é outro, estou dizendo
simplesmente que isso seria possível e todo mundo sabe, além de que ninguém se
importa.
Atualmente realmente vivemos
vigiados incansavelmente, mas não por governos autoritários e sim por empresas
ambiciosas sedentas por lucrar mais, este é o resultado das multinacionais e da
ambição humana, eles nos observam, nos estudam para saber o que queremos antes
que nós mesmos saibamos e o mais impressionante é que nós não nos importamos.
O Grande Irmão no futuro
Nossa ultima analise se baseará
no futuro, será uma previsão sobre um possível Grande Irmão perante uma
sociedade mais desenvolvida, levando como base a sociedade de hoje. Como já foi
dito, as empresas dominam o mundo hoje e provavelmente continuarão dominando.
Partindo do ponto de vista utópico de que a sociedade evolua intelectualmente
ao ponto de resistir a essa invasão das empresas perante o individuo, existirá
uma crise que colocará empresas e governos umas contra outras. Neste cenário de
ruptura entre empresas e governo não existiria um Grande Irmão, enquanto a
crise não terminasse. Ao final da crise existiriam duas possibilidades, as
empresas conseguem convencer que elas são inocentes, a população acredita e
tudo volta ao ponto que estamos hoje. Ou os governos pressionam as empresas a
deixar de realizar tal ato e então, a maioria delas começa a quebrar, afinal
elas não sabem o que vendem e nem como vender, qual o seu publico, entre outras
questões que as fizeram chegar lá. Então o governo, que também depende do
consumo para lucrar, decide financiar as empresas que estão quebrando para se
reestabelecer. Em um determinado momento, essas empresas se tornariam parte do
governo, assim o governo teria acesso a todos os dados dessas empresas, podendo
utiliza-los “livremente” para manipular a população. Utilizando as técnicas
antes proibidas para as empresas, de forma discreta, os governos poderiam
manipular as massas ao ponto de se transformarem no próprio Grande Irmão. A
população não teria percebido o que ocorreu até ser tarde demais. E assim as
tendências do Grande Irmão existir propriamente dito durante toda a história da
humanidade enfim se concretizariam.
Outro ponto de vista, talvez mais realista,
seria com base nos blocos econômicos atuais.
O que acontece na Europa atualmente é evidente, ela esta se unificando.
Durante toda a história da humanidade o desejo de criar uma única forma
europeia é uma constante, do império romano as grandes guerras, passando pelo
império Napoleônico, praticamente todas as grandes forças da Europa tentam
unifica-las. Em um futuro teórico essa união seria real o que estimularia
outros blocos econômicos a fazer o mesmo, um grande tempo depois o mundo seria
um único país, e assim um único governo. Correntes separatistas começariam a
aparecer por todo o globo depois de um tempo, então o governo decide a investir
pesadamente em campanhas e combater de forma mais agressiva essas correntes. No
final deste cenário, mais uma vez teríamos a obra do Grande Irmão tornando-se
real a fim de evitar uma nova fragmentação global. Com nenhuma outra forma de
governo para combater, o Grande Irmão perpetuaria e tornar-se-ia a forma de
governo predominante e única no futuro.
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